quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Pra que literatura inútil?



Tudo começa na declaração da professora particular de redação. O pai que não sabia se o dinheiro investido em aulas de português foi de valia relevante."Pra que literatura inútil?".Me alicerço na frase do letrado para dar ondas ao mar de assuntos do post.Inútil é o último adjetivo cabível à literatura, e eu não preciso nem explicar pra que ela serve, não é?Literatura, a visão do mundo,dos acontecimentos, do homem, dos sentimentos, de uma maneira menos pragmática.É a visão de um, que reflete o todo.É deixar algo que seus filhos, netos, bisnetos e os bisnetos deles irão ler, estudar, refletir, e pensar..."Ainda bem que o homem inventou a escrita". De um pai desses eu sinto pena.Nunca vai possuir certas riquezas que o mundo oferece.Mas isso tem uma explicação.Conta a mesma professora que, quando cursava ciências sociais na Universidade de São Paulo, assistia aulas, ministradas por militares,em barracões, sentada em caixotes.Isto porque os militares de 60 queriam acabar com as Ciências Humanas. E, sinceramente, se eles não conseguiram, chegaram bem perto. As humanas estão quase destruídas.O que sua filha vai cursar? Letras? Mas porque não odonto? Medicina? Ha,se ela gosta de português que curse direito,ué.O que este bendito pai quis dizer com "pra que literatura inútil?"? Ele quis dizer pra que história inútil, geografia inútil,gramátrica inútil, se o bom mesmo é a matemática que estuda a exatidão do mundo. A biologia, cujo centro da atenção é a maior das riquezas. O homem.Bom mesmo é ser médico,pra cuidar de gente. Ser engenheiro, pra cuidar das casas, que é onde o homem mora. Ser advogado, pra defender o homem,afinal,ele também erra.E nessa história,onde ficam as Alvarengas? Onde fica Rose Marinho Prado? Ficam por trás de todos. Por trás de todas as conquistas ficam os espíritos magníficos dos professores. Dos mestres, que com empenho e amor, passam o que sabem pras mentes menos privilegiadas em certas áreas, e aprimoram o pedaçinho de ouro daqueles que possuem mentes tão brilhantes como as suas.Feito o ourives.Parnasiano.Que eu só conheço graças a literatura inútil. Em Homenagem á Rose Marinho Prado, professora, mestra, que me guiou pelas ruas tortuosas da escrita, da gramática,da filosofia, da história.E me ajudou a alcançar o primeiro dos grandes sonhos. E às Alvarenga,que prometem enfeitar ainda mais o céu de estrelas letradas nesse país que precisa muito da literatura inútil.

2 comentários:

  1. Ewerton

    As aulas não eram dadas por militares e sim, por professores de humanas. Mas eram barracos sim. A precariedade dos recursos oferecidos ao pessoal de humanas foi e é fato.
    É exato por isso a existência de deboches como o que esse ex-aluno fazia com consequente respaldo do pai. Apenas a mãe do rapaz valorizava o que eu oferecia. Mas os deboches às ciências humanas são naturalíssimos neste país. Essa falta de apreço à literatura é reflexo disso.
    Eu gosto meu ex-aluno, daí a mágoa, outro dia repisada num encontro com a mãe dele. E parece masoquismo dizer que, durante uns 3 anos, ou mais, insisti com esse aluno, na mesma medida em que ouvia: "Sinto, mas a matéria que você ensina é inútil".
    Ríamos eu, imitando uma hiena, decerto.
    Lava-me a alma ler textos como o seu; iluminam a confusão desta alma que, ainda que tivesse escolhido as Letras , jamais ouviu tão veemente - por seu intermédio, do Lauro, Vanessa, Antonio e outros- que fiz a escolha certa.
    Jamais fui compreendida na minha escolha. E, mais ainda, pelo fato de trabalhar num ofício meio intimista, a aula particular. É sempre comum ouvir nas ruas: "Ainda está dando aula particular ou...". Suspendem a fala que decerto seria :"Já arrumou coisa melhor?"
    Inusitada escolha essa da aula particular. Tenho certeza de que, no ensino formal, não teria erigido o aluno à posição de um ser sagrado a quem sempre me curvei, reverenciei e coloquei ferramentas do saber à disposição. A hora da aula sempre é sagrada, daí a necessidade de eu estar inteira para aquele momento.
    Obrigada pelo texto, parabéns pelo blog que é a expressão do que eu vi aqui na minha sala: a sua competência nas palavras.

    ResponderExcluir